
Uma visita à Gruta de Belém
Transeamus usque Bethlehem, et videamus hoc verbum, quod factum est – Cheguemos até Belém, e vejamos o que é isto que sucedeu (Lc 2, 15)
I Tende ânimo, Maria convida todos, os justos e os pecadores, a entrarem na Gruta para adorarem seu divino Filho e beijarem-lhe os pés. Eia pois, ó almas devotas, entrai e vede sobre a palha o Criador do céu e da terra, feito Menino pequenino, mas tão encantador, tão radiante, que para toda a parte irradia torrentes de luz. Já que Jesus nasceu, a gruta não é mais horrorosa, senão foi feita um paraíso. Entremos e não temamos. Jesus nasceu, e nasceu para todos. Ego flos campi, et lilium convallium: Eu, assim manda-nos avisar Jesus, eu sou a flor do campo, e a açucena dos vales (1). Jesus se chama açucena dos vales, para nos dar a entender que, assim como ele nasceu tão humilde, assim somente os humildes o acharão. Por isso o anjo não foi anunciar o nascimento de Jesus Cristo a Cesar nem a Herodes; mas sim a pobres e humildes pastores. Jesus chama-se também flor dos campos, porque, segundo a interpretação do cardeal Hugo, quer que todos o possam achar. As flores dos jardins estão reclusas e não se permite a todos procurá-las e tomá-las. Ao contrário, as flores dos campos estão expostas à vista de todos, e quem quiser as pode tirar: é assim que Jesus Cristo quer estar ao alcance de todo aquele que o desejar.
Entremos, pois a porta está aberta: Non est satelles, qui dicat: non est hora – “Não há guarda”, diz São Pedro Crisólogo, “para dizer que não são horas”, cercados de soldados, e não é fácil obter-se audiência. Quem deseja falar com os reis, tem de afadigar-se muito, e bastantes vezes será mandado embora com o conselho de voltar em outro tempo, por não ser dia de audiência. Não é assim com Jesus Cristo. Está na gruta de Belém, como criancinha, para atrair a quem vier procurá-lo. A gruta está aberta, sem guardas nem portas, de modo que cada um pode entrar à vontade, quando quiser, para achar o pequenino Rei, para falar com ele e mesmo abraçá-lo, e assim satisfazer a seu amor.
II. Almas devotas, contemplai naquela manjedoura, sobre aquela pobre palha o tenro Menino que está a chorar. Vede como é formoso; mirai a luz que irradia, e o amor que respira; esses olhos atiram setas aos corações que o desejam, esses vagidos são chamas abrasadoras para os que o amam. No dizer de São Bernardo, a própria gruta e as próprias palhas chamam e vos dizem que ameis aquele que vos ama, que ameis um Deus que é digno de amor infinito, baixou do céu, se fez menino e menino pobre para manifestar o amor que vos tem e para cativar por seus sofrimentos e vosso amor.
Pergunta-lhe: Ó formoso Menino pequenino, dizei-me, de quem és filho? Responde-lhe: Minha mãe é esta linda e pura Virgem, que está a meu lado. E teu pai, quem é? Meu pai é Deus. Mas como? Tu és o Filho de Deus, e és tão pobre, tão humilde? Nesse estado quem te reconhecerá? Quem te respeitará? A santa fé, responde Jesus, me fará conhecer por quem sou, e me fará amar pelas almas que eu vim remir e inflamar em meu amor. Não vim para me fazer temido, senão para me fazer amado, e por isso, quis manifestar-me, a primeira vez que me vedes, como criança tão pobre e humilde, afim de que assim me ameis com mais ternura, vendo a que estado me reduziu o amor que vos tenho.
Mas dizei-me, meu Menino, porque volves os teus olhos para todos os lados? Que estás esperando? Ouço que suspiras, dizei-me: para que são esses suspiros? Ó Deus, ouço que estás chorando, dizei-me porque choras?
Ah, responde Jesus, eu olho ao redor de mim, porque estou procurando alguma alma que me queira. Suspiro pelo desejo de ver junto de mim algum coração abrasado em meu amor, assim como estou abrasado em seu amor. Choro, sim, e choro porque não vejo corações, ou vejo-os nimiamente poucos, corações que me procurem e me queiram amar.
Ó Maria, Mãe do belo amor, fazei que o meu coração seja também do número daqueles que buscam e amam Jesus.
Referências: (1) Ct 2, 1
(LIGÓRIO, Afonso Maria de. Meditações: Para todos os Dias e Festas do Ano: Tomo I: Desde o Primeiro Domingo do Advento até a Semana Santa Inclusive. Friburgo: Herder & Cia, 1921, p. 84-86)
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Festa de Santo Estevão, Proto mártir
Elegerunt Stephanum, virum plenum fide et Spiritu Sancto – Elegeram Estêvão, homem cheio de fé e do Espírito Santo (At 6, 5)
Sumario. Eis ai o belo elogio com que a Sagrada Escritura presta homenagem às virtudes de Santo Estêvão: chama-o cheio de fé, cheio de graça, cheio de fortaleza, em uma palavra, cheio do Espírito Santo. Alegremo-nos com o santo Protomártir, e em seu nome demos graças a Deus. Volvendo depois os olhos a nós mesmos, vejamos se ainda, e em que grau, as mesmas belas virtudes se acham em nossa alma, visto que nos foram infusas pelo Sacramento do Batismo.
I. Considera o belo elogio com que o Espírito Santo presta na Sagrada Escritura homenagem às virtudes do Protomártir Santo Estêvão. Chama-o em primeiro lugar de cheio de fé: Elegeram Estêvão, homem cheio de fé – Elegerunt Stephanum virum plenum fide (1). Ser cheio de fé, segundo Santo Tomás (2), quer dizer, não somente ter uma firmeza eminente em crer todas as verdades reveladas, junto com um amor ardente à revelação e uma conformidade perfeita com a vontade de Deus que revela; mas quer dizer além disso, possuir o depósito inteiro da fé conhecimento explícito de todas as suas partes. Por esta razão São Jerônimo diz que Santo Estêvão era doutíssimo na lei.
O Espírito Santo chama Santo Estêvão em segundo lugar cheio de graça e de fortaleza: plenus gratia et fortitudine (3), porque advogava a causa de Jesus Cristo ao mesmo tempo com doçura e com zelo ardentíssimo. Temos a prova naquele sublime discurso que fez antes de morrer. Depois de pedir ao povo e aos anciãos que o escutassem em quanto lhes pregasse a salvação, Santo Estêvão expôs-lhes em seguida todos os favores que tinham recebido de Deus e a negra ingratidão com que lhe haviam pago. Vendo, porém, que com bons modos não conseguia abrandar-lhes o coração, começou a deitar-lhes à cara os seus defeitos, e com coragem heroica concluiu dizendo que eram homens duros de cerviz, e de corações e ouvidos incircuncisos, que sempre resistiam ao Espírito Santo (4).
Afinal a Sagrada Escritura chama Santo Estêvão cheio de todos os carismas celestiais: Cum autem esset plenus Spiritu Santo (5). Por isso se diz que fazia grandes prodígios e milagres entre o povo (6); que não se podia resistir a sua sabedoria (7); que o seu rosto era refulgente como o de um anjo (8); e que pouco antes de expirar teve a ventura de ver os céus abertos, a glória de Deus, e Jesus à direita de Deus (9). Alegra-te com o santo Diácono e dá graças a Deus por havê-lo enriquecido com tantas virtudes. Volvendo em seguida os olhos à tua própria alma, vê se em ti se acham as mesmas virtudes e o modo como as praticas, visto que te foram infusas no Sacramento do Batismo.
II. Muito embora Santo Estêvão se avantajasse em todas as virtudes, distinguiu-se todavia particularmente pelo amor de Deus e do próximo. Deu prova de seu amor de Deus sofrendo, o primeiro entre os fiéis, um doloroso martírio pela pregação da fé. Portanto os judeus, “ouvindo as suas repreensões e ameaças, se exasperaram em seus corações, e rangeram os dentes contra ele. E levantando um grande clamor, taparam os seus ouvidos, e todos juntos arremeteram contra ele, e expelindo-o para fora da cidade, o apedrejaram”(10).
Mostrou igualmente o seu amor para com o próximo. Desprezando a desmembração de seu próprio corpo e lamentando unicamente a obcecação dos seus algozes, opôs benefícios à injúria, amor ao ódio, doçura à ira, bondade à malquerença (inimizade). Com uma palavra, o Santo pôs em prática o ensino do divino Mestre: Rogai pelos que vos perseguem (11); por isso, “pondo-se de joelhos, clamou em alta voz, dizendo: Senhor, não lhes imputeis este pecado. E tendo disto isto, dormiu no Senhor”(12). Esta caridade heroica agradou de tal forma a Jesus Cristo, que, na opinião de Santo Agostinho, mereceu a conversão do Apóstolo São Paulo, que “dera consentimento à morte de Estêvão”.
Que lição para ti, se a souberes aproveitar! Examina o teu coração para ver se nutre sentimentos de aversão ou de antipatia contra o próximo, e roga ao Senhor, te dê força para perdoar de boa vontade todas as injúrias, ainda que imerecidas, para suportares os defeitos dos outros, assim como estes suportam os teus, e para te mostrares sempre amável para com todos, sem nenhuma exceção.
“Concedei-nos, Senhor, a graça de imitar o que veneramos neste dia, para que, celebrando o natalício daquele que soube rogar pelos seus perseguidores, aprendamos a amar os nossos inimigos (13)”. Fazei-o pelo amor do mesmo Jesus Cristo e da nossa amada Mãe Maria.
Referências: (1) At 6, 5 (2) Suma Teológica 2 2, q. 6, a. 4 (3) At 6, 8 (4) At 7, 51 (5) At 7, 55 (6) At 6, 8 (7) At 6, 10 (8) At 6, 15 (9) At 7, 55 (10) At 7, 54-57 (11) Mt 5, 44 (12) At 7, 59 (13) Or. fest. curr.
(LIGÓRIO, Afonso Maria de. Meditações: Para todos os Dias e Festas do Ano: Tomo I: Desde o Primeiro Domingo do Advento até a Semana Santa Inclusive. Friburgo: Herder & Cia, 1921, p. 81-84)
Ouça a Homilia sobre Santo Estêvão
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