Santo Afonso, modelo de Mansidão e de Humildade

Santo Afonso, modelo de Mansidão e de Humildade

Santo Afonso, modelo de Mansidão e de Humildade

Devoção a Santo Afonso como modelo das Virtudes Fundamentais. Mês de Agosto

Discite a me, quia mitis sum et humilis corde — “Aprendei de mim, que sou manso e humilde de coração” (Mt 11, 29)

Sumário. Uma das razões pelas quais aprouve ao Senhor dispensar tantas graças ao nosso santo, foi vê-lo muito humilde. Inúmeras vezes foi maltratado e desprezado; mas suportou tudo em paz dizendo: Se me conhecessem melhor, tratar-me-iam pior ainda. Que vergonha para nós, que somos tão orgulhosos e ficamos ressentidos com o mais leve desprezo! Procuremos ao menos para o futuro imitar a Santo Afonso, e persuadam-nos de que a humildade se alcança mais pela prática do que por meio de mil teorias.

I. Os corações humildes são o alvo das setas do amor divino; mais, o único meio para obter o dom do amor divino é o exercício da humildade. Aprouve, portanto, ao Senhor cumular o nosso santo de tantos tesouros de graças, porque o viu muito humilde. Desde jovem começou a dar provas de humildade; porquanto, posto que fosse estimado pelos seus raros talentos, aborrecia sempre toda ostentação e todo o espírito de altivez. “Quem sou eu?”, dizia. “Que há em mim que não seja de Deus? É Deus quem me dá o talento e a força de o utilizar. Quer ande, quer escreva, quer fique sentado, tudo faço por Deus. Só os defeitos são meus”.

Mais admiráveis foram os progressos que o santo fez na humildade, quando, dizendo adeus ao mundo, se ligou a Deus pelos santos votos na Congregação por ele fundada. Basta dizer que não só recusou toda a preeminência e distinção, apesar de ser superior geral, mas quis ainda encarregar-se dos ofícios mais humildes e laboriosos da casa, desejando ser tido pelo último de todos. Este mesmo espírito de humildade, que ele tanto amava e desejava ver em seus filhos, fê-lo prescrever nas Regras que sempre preferissem os lugares pobres e abandonados às cidades grandes, e nunca aceitassem ofícios e dignidades fora da Congregação.

Não era, porém, Santo Afonso do número daqueles humildes que não sabem sofrer que outros os tenham por imperfeitos e os desprezem. Não! À imitação dos humildes verdadeiros, o santo se tinha por desprezível e assim desejava ser considerado pelos outros. Como missionário e como bispo, foi centenas e milhares de vezes maltratado, desprezado e humilhado. Foi acusado de hipócrita, orgulhoso, iludido e até de ignorante, e suportou tudo em paz, dizendo consigo: “Se me conhecessem melhor, tratar- me-iam ainda pior”. Que vergonha para nós! Santo Afonso era rico de muitos dons da natureza e da graça, e assim mesmo se humilhava até considerar-se como que um nada. Nós, ao contrário, somos pobres de dons da natureza, mais pobres de dons da graça, e quiçá miserabilíssimos pelos muitos pecados cometidos; e apesar disso temos a audácia de nos ensoberbecermos, de nos vangloriarmos e de ficarmos ressentidos do mais leve desprezo. Como nos podemos então gabar de sermos filhos e devotos do santo Doutor?

II. Todos querem ser humildes, mas poucos são os que querem ser humilhados. Santo Inácio de Loyola foi enviado do céu por Maria Santíssima para ensinar a Santa Maria Madalena de Pazzi que a humildade é uma complacência em tudo o que nos leva ao desprezo de nós mesmos. Isto é ser humilde de coração, segundo o ensino de Jesus Cristo; isto é, termo-nos pelo que somos e desejar que outros nos tenham e tratem como tais. Eis aí, portanto, conforme o nosso santo Doutor, o fruto que devemos tirar da presente consideração: devemos ocultar e guardar com cuidado o que as nossas obras tenham de bom, a fim de que não seja visto senão por Deus; e entretanto considerarmo-nos como que nada.

Convencidos de que, para obtermos a santa humildade e doçura, vale mais a prática do que mil teorias, fujamos de todo o empenho e ostentação da estima própria, aceitemos as repreensões com humildade interior e exterior, orando pelo que nos repreende; alegremo-nos por nos vermos difamados, injuriados, escarnecidos, deixando de nos desculpar, enquanto o não exigir um bem maior. Numa palavra, façamos ao Senhor o pedido de São João da Cruz: Domine, pati et contemni pro te—“Senhor, sofra e seja desprezado pelo vosso amor”; e se o Senhor se dignar atender-nos, lembremo-nos, para nos excitar à paciência, desta grande verdade: Perante Deus vale mais um desprezo aceito em paz pelo seu amor, do que mil disciplinas e mil prédicas.

Ó meu Protetor, Santo Afonso, que com a vossa bela humildade feristes o Coração de Deus! Pelo amor que tendes à vossa querida Mãe Maria, rogo-vos me alcanceis a santa humildade, a fim de que, tornando-me convosco semelhante ao meu Jesus, e humilhado na terra, possa um dia ir vê-lo e amá-lo convosco no paraíso. E Vós, meu humílimo Jesus, que, para me ensinar a suportar os desprezos e me tornar doce e amável, quisestes ser o mais desprezado e humilhado de todos, até ser saciado de opróbrios e Vos fazer o opróbrio dos homens: ah! Remediai com a plenitude das vossas misericórdias a desordem da vaidade do meu coração. Prometo querer sempre dizer- Vos:

Jesus, manso e humilde de coração, fazei o meu coração semelhante ao vosso (1). A vós também peço a mesma graça, ó Maria, Rainha dos humildes e minha Mãe.

Referência: (1) Indulgência de 300 dias.

(LIGÓRIO, Afonso Maria de. Meditações: Para todos os Dias e Festas do Ano: Tomo III: Desde a duodécima semana depois de Pentecostes até ao fim do ano Eclesiástico. Friburgo: Herder & Cia, 1921, p. 421-424)

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