
Festa de São Bartolomeu, Apóstolo
Maiorem hac dilectionem Demo habet, ut animam suam ponat quis pro amicis suis —“Ninguém tem maior amor do que aquele que dá a própria vida por seus amigos” (Jo 15, 13)
Sumário. Consideremos como este grande santo, depois de haver sacrificado ao amor de Jesus Cristo todos os bens de fortuna, lhe sacrificou também o corpo e a vida, pelo seu generoso martírio. Ó! Que belo exemplo para nós, se o soubermos aproveitar. Não basta que tenhamos sacrificado ao Senhor os bens da terra, ao menos desligando deles o nosso afeto: mister é que lhe sacrifiquemos também o corpo, deixando-o, por assim dizer, esfolar vivo pelas enfermidades e humilhações, e mortificando-o pelas austeridades e penitências. Devemos, numa palavra, despojar-nos do homem velho e vestir-nos do novo, que é criado segundo o Coração divino.
I. Considera a generosidade do amor deste santo para com Jesus Cristo. Apenas chamado por ele, deixou para o seguir, não somente os bens que já possuía, mas também os que podia esperar. Em recompensa de tamanha generosidade, o Senhor fê-lo entrar no número dos doze que eram destinados para reformarem o mundo inteiro e para serem as pedras fundamentais sobre as quais devia ser edificada a Igreja católica. Preferido aos demais discípulos, na qualidade de apóstolo, teve São Bartolomeu a sorte invejável de alimentar a sua alma com as palavras de vida eterna que saíam da boca do divino Mestre e de ser testemunha de suas maravilhosas ações. Também ele pregou o Evangelho na Judéia, segundo a ordem de Jesus Cristo, fazendo milagres e expulsando os demônios do corpo dos possessos (1).
São Bartolomeu presenciou a Ascensão do Senhor e no dia de Pentecostes recebeu a plenitude do Espírito Santo. Fortalecido e animado por ele, pregou intrepidamente a fé aos hebreus, e, como os demais apóstolos, sofreu com paciência e alegria as injúrias e maus tratos recebidos por amor de Jesus Cristo. Quando os apóstolos se dispersaram para as diversas partes do mundo, a fim de pregar aos gentios a verdade rejeitada pelos judeus, dirigiu-se o santo primeiro à Licônia, depois à Arábia e afinal às Índias Orientais, para iluminar aquelas nações bárbaras que jaziam nas trevas da idolatria. De lá passou à Armênia maior, onde coroou o seu apostolado com um glorioso martírio.
Regozija-te com o apóstolo e dá graças a Deus em seu nome. Lança em seguida um olhar sobre ti mesmo, examina-te, e propõe ser para o futuro sempre pronto e generoso para com Deus, lembrando-te da bela promessa de Jesus Cristo:
“Todo o que deixar por amor de meu nome a casa, ou os irmãos, ou as irmãs, ou o pai, ou a mãe, ou a mulher, ou os filhos, ou a herdade, receberá o cêntuplo, e possuirá a vida eterna” (2).
II. Considera como se deu o martírio de São Bartolomeu. Tendo o santo, pela eficácia da palavra de Deus e pela força dos milagres, convertido o rei da Armênia e doze cidades principais do reino, os sacerdotes dos ídolos ficaram grandemente irados. Para se vingarem, acenderam contra o santo o ódio do irmão do rei, que o mandou prender e esfolar vivo. Como nem assim o santo deixasse de pregar a doutrina de Jesus Cristo, ordenou que fosse degolado. Assim, depois de ter sacrificado ao Senhor todos os bens de fortuna, São Bartolomeu sacrificou-lhe também o corpo, deixando-se imolar pela sua glória por um martírio tão doloroso que só o pensar nele causa horror. Ah, que belo exemplo para ti, se o souberes aproveitar!
Não basta que tenhas sacrificado a Deus os bens da terra, desapegando-te deles ao menos pelo afeto; mister é que lhe sacrifiques também o teu corpo, deixando-o, por assim dizer, esfolar vivo pelas enfermidades e humilhações, mortificando-o por meio de austeridades e penitências. Numa palavra, mister é que, renunciando às inclinações dos sentidos, aos prazeres da carne e às comodidades da vida, “te despojes do homem velho, que se corrompe segundo os desejos do erro, e te vistas do homem novo, que foi criado segundo Deus na justiça e na santidade da verdade” (3). Se este sacrifício é penoso à natureza humana, quanto mais não o foi o de São Bartolomeu! E se para tanto te faltam as forças, pede-as ao Senhor pelos merecimentos do próprio santo.
“Deus onipotente e eterno, que nos concedeis o venerável e santo júbilo da festividade do vosso apóstolo São Bartolomeu, fazei que vossa Igreja ame o que ele creu e pregue o que ele ensinou” (4). Fazei-o pelo amor de Jesus Cristo, vosso divino Filho, e pelos merecimentos de Maria, nossa querida Mãe.
Referências: (1) Lc 9, 1. (2) Mt 19, 29. (3) Ef 4, 22-24. (4) Or. festi.
(LIGÓRIO, Afonso Maria de. Meditações: Para todos os Dias e Festas do Ano: Tomo III: Desde a Duodécima semana depois de Pentecostes até ao fim do ano Eclesiástico. Friburgo: Herder & Cia, 1921, p. 352-355)
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O milagre do surdo-mudo e os espiritualmente mudos
11º Domingo depois de Pentecostes
Adducunt ei surdum et mutum, et deprecabantur eum, ut imponat illi manum – “Trazem-lhe um surdo-mudo, e lhe rogaram que pusesse a mão sobre ele” (Mc 7, 32)
Sumário. Os espiritualmente mudos não são somente aqueles cristãos que calam os pecados na confissão, mas também os que não se recomendam a Deus, não descobrem todo o seu interior ao Diretor, deixam de corrigir seus súditos, ou descuidam de comunicar ao Superior as desordens ocultas da comunidade. Examinemos a nossa consciência e, se descobrirmos em nós alguma destas mudezes, roguemos ao Senhor queira renovar em nosso espírito o milagre feito a favor do mudo do Evangelho.
I. Refere o Evangelho que trouxeram para Jesus um surdo-mudo e lhe rogaram pusesse a mão sobre ele. Jesus tirou-o do meio da multidão, tomou-o à parte, pôs-lhe os dedos nos ouvidos e tocando com sua saliva a língua do surdo-mudo, levantando os olhos ao céu, suspirou e disse: Ephphetha, isto é, abri-vos. Logo os ouvidos deste homem se abriram, sua língua desatou-se e ele falava distintamente. Jesus lhes ordenou que nada dissessem a ninguém, Mas, quanto mais recomendava, mais o publicavam; e cheios da mais viva admiração diziam: “Ele fez bem tudo, fez ouvir os surdos, e falar os mudos” – Surdos fecit audire et mutos loqui.
Seria para desejar que o Senhor renovasse o milagre que fez a favor do infeliz mudo corporalmente, a favor de tantos outros infelizes que são mudos espiritualmente. Semelhantes espiritualmente mudos são em primeiro lugar os que calam pecados na confissão, ou que acusam só pela metade os pecados mais vergonhosos, que não tiveram pejo de cometer, de sorte que o ministro de Deus os não pode entender. – São em segundo lugar aqueles que deixam de descobrir ao Diretor espiritual todo o seu interior e especialmente as tentações, que talvez tivessem de cessar, se eles falassem. – São em terceiro lugar aqueles que se descuidam de admoestar ou repreender os seus súditos, ou descuram de informar os superiores acerca das desordens de uma comunidade, afim de que as possam remediar. – Finalmente, são mudos espiritualmente todos os que nas necessidades da alma ou do corpo deixam de recorrer a Deus pela oração.
Examina-te aqui meu irmão, afim de ver se em ti se acha uma destas mudezes espirituais, e se for este o caso, apresenta-te a Jesus Cristo, e roga lhe que te solte a língua.
II. Para cura dos espiritualmente mudos é necessário, como fez Jesus Cristo com o surdo mudo, tirá-los à parte, do meio de tantas distrações mundanas, e antes de lhes desatar a língua, abrir-lhes os ouvidos, para que compreendam os graves males que atraem sobre si.
Quem sofre a tentação de ocultar os pecados na confissão, pondere que deste modo muda em veneno o sangue de Jesus Cristo e agrava a sua alma de sacrilégios horrorosos. – Quem não abre o interior ao Diretor, virá em breve a cair em pecado; porque o Senhor retirará sua luz e a tentação irá ganhando força. Quem com seu silêncio coopera para as desordens do próximo, as quais poderia remediar falando, lembre-se de que tais desordens lhe serão imputadas e que um dia será punido com todo o rigor.
Enfim, os que descuidam de pedir auxílio a Deus pela oração, estejam persuadidos de que desta forma se expõem ao perigo certo de caírem no inferno, pois o que não reza, certamente se condena. – Numa palavra, mais cedo ou mais tarde todos aqueles mudos espiritualmente terão de dizer com o profeta: “Ai de mim, porque fiquei calado” – Vae mihi, quia tacui (1).
Ó meu amabilíssimo Jesus, Vós que restituístes o ouvido aos surdos e a fala aos mudos, dignai-Vos abrir os nossos ouvidos e desatar a nossa língua, afim de que, compreendendo os embustes com que o demônio nos quer impor silêncio, comecemos, à imitação do mudo do Evangelho, a falar bem e digamos com a multidão cheia de admiração pelo vosso poder: Ele tudo tem feito bem: fez os surdos ouvir e os mudos falar.
– Peço-Vos também, ó meu Senhor, “que derrameis abundantemente sobre mim a vossa misericórdia; perdoai-me o que a consciência teme e acrescentai ao perdão o que por minhas orações não presumo alcançar” (2). Fazei-o pelo amor de Maria Santíssima.
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O Surdo-mudo e as Confissões Sacrílegas
Sumário. O surdo-mudo de quem fala o Evangelho é uma imagem daqueles pecadores que por vergonha calam os pecados na confissão e agravam a alma com sacrilégios horrorosos. Meu irmão, se, por desgraça fores do número daqueles infelizes, pede a Jesus Cristo que renove em ti o milagre; e que, para te levar a desatar a língua, te abra primeiro os ouvidos, afim de que compreendas as ilusões do demônio. Reflete que, enquanto estás meditando, tantas pobres almas estão ardendo no inferno, por terem, como tu, calado os pecados na confissão.
I. O surdo-mudo de quem fala o Evangelho, é uma imagem daqueles pecadores que por vergonha calam os pecados na confissão e agravam a alma com sacrilégios horrorosos. Para curar semelhantes infelizes e induzi-los a fazerem uma confissão sincera, é necessário que Jesus Cristo, como fez com o surdo-mudo, os tire à parte de entre a multidão de tantos pensamentos mundanos, e que, antes de lhe desatar a língua, lhes abra os ouvidos, afim de que compreendam bem as ilusões do demônio.
Representemo-nos uma pessoa que, cega por alguma paixão, caiu em um falta grave. Afim de que ela não procure recuperar a graça de Deus, o demônio restitui-lhe o pejo, que primeiro lhe tirou para pecar, e diz: “Que dirá o teu confessor, quando ouvir a tua queda? De certo, sabendo a tua fraqueza, t’a lançará em rosto e se irritará”. – Eis aí a primeira ilusão do demônio; eis aí como o lobo infernal agarra as ovelhas de Jesus Cristo pelo pescoço, para que não possam gritar por socorro.
Que dirá o Confessor?
Responde: Dirá que sou um infeliz, como são quantos vivem neste mundo, e que estou exposto a cair; dirá que, se pratiquei o mal, fiz também uma ação gloriosa, vencendo a vergonha e confessando sinceramente o meu pecado.
O Confessor te Insultará, te Repreenderá
– Para que insultos? Para que censuras? Dize antes, que com doçura te dará os conselhos que te convenham. Os confessores sentam-se no confessionário exatamente para este fim; não para ouvir êxtases e revelações, mas para ouvir os pecados daquele que vai confessar-se. A maior consolação que eles possam ter, é absolverem um penitente, que se acusa das suas culpas com sinceridade e verdadeira dor. – Se uma rainha fosse ferida mortalmente por um escravo, e tu a pudesses curar com um remédio, que consolação não teria em salvá-la da morte! Pois, uma consolação semelhante recebe o confessor que absolve uma alma caída em pecado. Aplicando-lhe o sangue de Jesus Cristo, qual balsamo salutar, livra-a da morte eterna, fal-a recuperar o direito de rainha do paraíso, e os merecimentos anteriormente adquiridos, mas perdidos pelo pecado.
Além disso, o confessor, fazendo a alma recuperar a graça divina, restitui-lhe também nesta terra a paz do coração, livrando-a de um inferno antecipado. Ó céus! Que inferno não está sentindo dentro de si a pessoa que sai do confessionário sem ter acusado seu pecado! Por toda parte leva consigo uma víbora, que continuamente lhe dilacera o coração.
II. Se eu acuso tal pecado, temo que se publique, que o confessor o descubra a outros… Numa palavra, tenho agora muita repugnância de me confessar, falo-ei mais tarde, na hora da morte. – Eis aqui outras ilusões do demônio; eis como o lobo infernal, tendo agarrado as ovelhas de Jesus Cristo pelo pescoço, aperta sempre mais os dentes, afim de que não possam chamar por socorro.
Respondo: A quantos confessores tens de confessar tua culpa? Basta dizê-la a um só sacerdote, uma só vez. Tu mesmo podes escolher o sacerdote, que por ventura nem te conhece; e assim como escuta o teu pecado, escuta também muitos outros semelhantes de outras pessoas. – Nem há perigo que o confessor descubra a outros o teu pecado, visto que, ao sair do confessionário, não pode dele falar, nem mesmo contigo, sem cometer um delito muito grave. – Observa também que o sigilo da confissão é tão apertado, que, se o confessor, para não manifestar um só pecado venial ouvido na confissão, tivesse de ser queimado vivo, antes deve deixar-se queimar vivo do que manifestá-lo.
Depois, pode haver maior insensatez do que adiar a confissão e esperar até a hora da morte, como se esta não se pudesse colher de improviso? “Se uma vez“, diz Santo Agostinho, “porque não agora?“. Não vês, meu irmão, que quanto mais tardares em manifestar teu pecado, e quanto mais acumulares os sacrilégios, tanto mais aumentará a dificuldade, a vergonha e a obstinação em não te confessares? Oh! Quantas almas se habituaram a calar o pecado, dizendo: Acusá-lo-ei na hora da morte, e também, chegada que era a hora, o calaram, confessaram-se sacrilegamente, e agora choram no inferno! Quem garante que não te sucederá a mesma desgraça?
Deus onipotente e misericordioso, que pela abundância de vossa misericórdia excedeis os méritos e os desejos dos que Vos suplicam! Lançai um olhar piedoso sobre tantos infelizes pecadores. Vós, que restituístes o ouvido aos surdos e a fala aos mudos, dignai-Vos abrir-lhes os ouvidos e desatar-lhes a língua, a fim de que, compreendendo as ilusões do demônio, falem bem e confessem todos os seus pecados. “Derramai a vossa misericórdia também sobre mim; perdoai-me o que a consciência teme, e acrescente ao perdão o que por minhas orações não presumo alcançar. “(3)
– Doce Coração de Maria, sede minha salvação!
Referências:
(1) Is 6, 5 (2 e 3) Or. Dom. curr.
(LIGÓRIO, Afonso Maria de. Meditações: Para todos os Dias e Festas do Ano: Tomo III: Desde a Décima Segunda Semana depois de Pentecostes até o fim do ano eclesiástico. Friburgo: Herder & Cia, 1922, p. 1-6)
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